sexta-feira, 2 de julho de 2010

O Gosto Amargo da Derrota


Dia 2 de Julho de 2010. Um dia que poderia ser bonito para a nação brasileira que leva a Copa do Mundo tão à sério quanto um religioso. Hoje tivemos que reconhecer novamente, após quatro anos, que aquilo que a gente mais acredita pode não acontecer. Aquilo que ansiávamos por vezes seguidas, se transformar em cinzas a serem levadas pelo vento. Nossa incrível seleção, que mostrou garra durante todos os três anos bem trabalhados pelo técnico Dunga conheceu a derrota.

É incrível isso porque o primeiro tempo entre Brasil e Holanda nas quarta-de-final, mostrou um dos melhores desempenhos que o Brasil podia ter em um jogo de futebol. Jogadores que atacavam sem dó, e resistiam a todo e qualquer puxada ou carrinho dos adversários. Tudo com um objetivo maior. O primeiro gol por volta dos 10min. do primeiro tempo já indicavam aquele que seria um dos melhores jogos da nossa seleção. Ao contrário do que ocorreu na última copa, quando era fácil prever que a equipe de Parreira uma hora não aguentaria mais e cairia.

No entanto, o que ocorre aqui se assemelha aos quatro anos passados pelo seguinte: um time acostumado com a vitória, sendo cobrada a todo tempo vê o mundo cair aos seus pés quando a sombra da derrota lhe toma a cabeça. Foi o que aconteceu em 2006, e aconteceu novamente aqui com o primeiro gol holandês. O desequilíbrio emocional contribuiu para uma segunda bola na rede do adversário e a conseqüente derrota.

Ainda acho Dunga um grande guerreiro, mas como todo grande guerreiro, ele também têm seu calcanhar de Aquiles. Aqui se encontra na sua insistência em escalar Felipe Melo. Um jogador que estava obviamente despreparado para os jogos, como as partidas anteriores demonstraram. É realmente ruim quando, para uma nação que têm no futebol a maior de suas paixões e especialidades, ter de reconhecer que há melhores. E a Holanda foi melhor. Ela aproveitou as falhas de uma equipe aparentemente imbatível. Nessa partida, Brasil e Holanda seria algo como a rivalidade Salieri e Mozart: imagine que você tenha um hobby ao qual é extremamente apaixonado e se dedique a ele mais do que tudo. E em determinado momento tenha que reconhecer que há outro que saiba fazer melhor do que você.

Talvez tenha sido esse o gosto que o técnico Dunga, os jogadores Kaká, Luis Fabiano, Robinho e todo o resto do time teve que reconhecer, a partir que o juíz Yuishi Nishimura apitou o fim do segundo tempo. Saber que também é vulnerável e pode fracassar. Uma pena para a seleção que dessa vez jogou certo a maior parte do tempo e merecia ganhar. Mas, como todo brasileiro, é persistente e não desiste. Um novo Sol nascerá amanhã, por isso choremos esta noite para sorrirmos na manhã seguinte.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Repensando os últimos dois anos



O dia 19 de Abril para mim tem três significados. É nacionalmente conhecido como o Dia do Indígena, algo de reconhecimento, como já disse... nacional. No entanto o círculo se fecha mais e é conhecido por minha família por ser o aniversário da minha tia Andréa, irmã da minha mãe. E por fim, ele tem para mim um significado ainda maior: em 19 de Abril de 2008, eu viajei com malas bem gordinhas, do meu lar em Salvador e fui com destino aos ares sergipanos de Aracaju. Sob o pretexto de passar os quatro anos seguintes nessa cidade entrando numa nova fase da minha vida, a universitária.

Essa data passou a representar não somente o início da minha vida acadêmica. Mas o início de novos sentimentos, sensações, novos conceitos aos quais preciso me submeter. Ou seja, não foi uma mudança. Tudo mudou. Meu mundo virou de cabeça pra baixo, e agora é para sempre. Hoje, sinto que mudei tanto nos últimos dois anos pelo fato de que ocorreram tantas coisas importantes nesse pequeno espaço de tempo. Eles valem mais do que meus últimos três anos em Salvador, sem sombra de dúvida. Boas e más, só que todas elas me ensinaram alguma coisa e por isso sou grato a cada dia que posso passar aqui. Apesar das dificuldades e de me sentir tão pressionado, vi que tudo fazia parte de uma prova maior. Com direito a obstáculos a serem enfrentados, prêmios no final de cada desafio vencido e a sensação de derrota para os que não foram concluidos com êxito. Essa prova não acabou, e acho que não vai acabar junto com a faculdade. Ela estará presente até meus últimos dias e isso eu só poderia ver a partir do momento que eu saisse do ninho e visse o mundo com outros olhos.

Aracaju representa muito mais do que uma cidade. É uma terra que aprendi a amar. O lugar no qual renasci e aprendi lições que, em Salvador, com toda sua magnitude metropolitana não conseguiria me ensinar sozinha. Terra na qual eu sinto-me mais vivo, acordado, e capaz de sangrar. Tendo sentimentos que variam da maior felicidade até a profunda tristeza, mas sempre na busca do equilíbrio entre elas. É a cidade na qual me sinto mais conectado com o mundo, com as pessoas.

É com isso que penso também no quanto me doerá ter que deixá-la daqui a dois anos e pouco, quando finalmente pegar meu diploma. Aracaju é sem dúvida alguma importante, mas ainda assim é pequena demais perto de tudo o que há de novo para eu conhecer. Não sei para onde vou depois daqui, mas tenho em mente que voltar para cá, será sempre uma forma de matar a saudade de tudo que já vivi e que viverei dentro dos próximo dois anos. Espero sim me formar dentro desse tempo, mas também espero que ele não passe tão rápido. Pois só se vive uma vez e aqui eu descobri o quanto significa esse prazer.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Resultados do Oscar 2010

Como foi previsto, "Guerra Ao Terror" foi o grande vencedor do Academy Awards desse ano. A cerimônia, que durou 3h30, foi conduzida por Steve Martin e Alec Baldwin. No entanto, os dois apresentadores apareceram muito pouco durante o evento, e este seguiu num ritmo que tentava acelerar a cerimônia ao mesmo tempo em que se dava um tempo para homenagens (como o longo réquiem para o cineasta John Hughes) e breve apresentações (como a do grupo de dança que interpretava as trilha sonoras indicadas na respectiva categoria).

Porém, mesmo tentando inovar na apresentação, a academia foi capaz de tropeços. Em um vídeo homenageando os "horror movies", ficou realmente esquisito a inclusão de "Lua Nova" durante a apresentação já que o filme se quer pode ser encaixado como suspense ou terror, ficando bem longe das duas definições. E mesmo dedicando 10 minutos de homenagem a John Hughes, a academia se esqueceu de outras grandes perdas do ano passado: ao superestimar o cineasta, ela está automaticamente dizendo que a sua perda foi pior ou que os outros artistas falecidos não estão a altura dele e por isso devem ter seu espaço de homenagem reduzido a alguns segundos no vídeo "In Memorian", algo mais do que injusto. O que dizer então dos veteranos que foram homenageados sem se quer poderem receber os aplausos dos colegas no palco? Isso sem contar que, pela primeira vez depois de muito tempo, não houve espaço para as interpretações dos indicados à Melhor Canção, mesmo que tenha sido encontrado espaço para uma apresentação mais-do-que-clichê de um ator de televisão, no ínicio do evento. Os 'piadistas' também não obtiveram muito sucesso: os silêncios durante as piadas eram constantes, e os comediantes apesar de empolgados não conseguiram transmitir isso para seus espectadores. Ben Stiller tentou fazer uma gag satirizando Avatar, mas achou que a maquiagem falaria por ele e aos poucos a cerimônia foi perdendo o ritmo.

Apesar dos erros, a cerimônia teve seus bons momentos, como nos indicados a Melhor Atriz e Ator que contou com homenagens dos colegas de cena dos indicados. A apresentação da categoria de Edição de Som também se mostrou eficiente através da voz de Morgan Freeman explicando como se dá a "edição" em destaque, através de trechos do ganhador na categoria do ano passado, Batman - O Cavaleiro das Trevas. A apresentação da categoria de Trilha Sonora também teve seus méritos na tentativa de inovar, mas que obviamente não se repetirá no ano que vêm. Além disso, a cerimônia contou com um momento muito esquisito entre os vencedores do Melhor Documentário de Curta-Metragem, que "disputaram" a fala no microfone. Como foi explicado pelos jornais, os dois têm uma rixa que se iniciou durante as filmagens do curta.

Outras mudanças consistiram na apresentação dos indicados a melhor filme nos finais de cada bloco da cerimônia, e o último prêmio foi dado por Tom Hanks sem apresentar os indicados, mas já anunciando o vencedor. Os agradecimentos de alguns vencedores também foram bem simpáticos e expressavam de maneira sutil o sentimento de realização pela obra, sobretudo da diretora Kathryn Bigelow. E por falar em 'vencedores', a academia aparentemente resolveu voltar a usar a expressão "the winner is" para anunciar o prêmio. Algo mais que incorreto, já que nomear um "vencedor" significa dizer que os outros são 'perdedores', o que não poderia ser mais incoerente. Por isso a expressão havia sido banida e substituida por "the Oscar goes to" já que essa, especifica simplesmente aquele que recebe o prêmio sem dividir os indicados entre vencedores ou perdedores, sendo muito inteligente a decisão daqueles que insistiram em usar a expressão mais apropriada. Espero que a Academia repense a atitude de voltar à algumas normas antigas que em nada favorecem à imagem da instituição. No geral, a cerimônia desapontou. É uma pena que com o passar dos anos, uma cerimônia tem se tornado previsível e se transformado mais numa curiosidade, do que um prêmio que poderia ser levado mais a sério.

Dito isso, acertei 14 das 20 categorias: errei ao dar a estatueta de Filme Estrangeiro para o alemão "A Fita Branca" enquanto que este acabou indo para o argentino "O Segredo dos Seus Olhos". O prêmio de fotografia mostrou uma agradável surpresa com "Avatar" e o mesmo valeu para o prêmio de Direção de Arte que o filme de James Cameron também venceu. Na categoria de Figurino era impossível prever e optei erronemente por "O Mundo Imaginário de Dr. Paranassus", quando o ganhador foi "The Young Victoria", justamente no qual eu apostei na categoria de Maquiagem e que "Star Trek" acabou sendo o premiado. Para finalizar, errei ao achar que a academia dividiria o prêmio de Mixagem de Som e Edição de Som entre "Avatar" e "Guerra Ao Terror", mas o longa-metragem de Kathryn Bigelow abocanhou o prêmio nas duas categorias, totalizando 6 prêmios. Segue a baixo a divisão de prêmios entre os vencedores:

6 - Guerra Ao Terror
3 - Avatar
2 - Up - Altas Aventuras/Preciosa/Coração Louco
1 - O Segredo dos Seus Olhos/Bastardos Inglórios/The Blind Side/Star Trek/Logorama/The New Tenents/The Cove/Music by Prudence

Um abraço e até a próxima postagem!

quarta-feira, 3 de março de 2010

Previsões para o Oscar 2010

Para tentar mudar um pouco o direcionamento desse blog (e com isso, trazer uma nova proposta para ele), resolvi fazer por aqui, algo que faço todo os anos: prever os possíveis vencedores do Oscar. Esse ano, a cerimônia de entrega do prêmio será no próximo domingo (dia 7). Infelizmente, o dito "prêmio máximo do cinema" tem ficado cada vez mais previsível ao longo dos anos, pois há premiações que antecedem ou influenciam os vencedores. Dessa forma, aqueles que acompanharam o Globo de Ouro, o BAFTA, os diversos Guild Awards, já terão conhecimento dos favoritos. Felizmente, há excessões nos quais filmes que inicialmente não demonstravam "ameaçar" os favoritos, acabam surpreendendo e abocanhando estatuetas. Essas surpresas podem ser boas (como no caso do excelente O Pianista, levando três estatuetas ) ou ruins (como o prêmio de efeitos especiais para A Bússola de Ouro, que tinha concorrentes mais merecedores).Enfim, como qualquer tipo de premiação, o Academy Awards (nomo original da premiação) tende a ser bom quando a maioria das previsões são frustradas pelas 'zebras'.

Esse ano o duelo tem se mostrado firme entre dois filmes: Guerra ao Terror e Avatar. Enquanto o primeiro vêm se mostrando o franco favorito nos diversos festivais e premiações, o segundo vêm tendo o mesmo desempenho nas bilheterias batendo recordes e se estabelecendo o mais lucrativo filme de todos os tempos (título que pertenceu a Titanic por doze anos). Avatar vêm sendo aplaudido pela audácia do seu realizador James Cameron no bom uso das novas tecnologias para contar uma história e pelo fato de que Cameron foi o único a conseguir bater seu próprio filme, o que o torna praticamente um "líder supremo" das bilheterias ocupando o 1º e 2º lugar. Como se não bastasse, o filme ainda conseguiu levar os principais prêmios do Globo de Ouro, Filme de Drama e Direção. Com isso, a premiação de Avatar no Oscar terminaria de consolidar o filme e seu realizador, pela ousadia e desempenho com relação ao público. Mas essa não é a mais provável das possibilidades.

Enquanto isso Guerra ao Terror vêm acumulando praticamente todos os prêmios do cinema americano. Além de ser uma obra mais madura do que o seu principal concorrente, o filme é de um gênero notoriamente masculino (Guerra) e dirigida por uma mulher. E o Oscar têm se mostrado nos últimos anos, acolhedor das minorias em diversos aspectos. Como até hoje nenhuma mulher levou o prêmio de Direção, essa será uma oportunidade de reparar a "injustiça". Como tem ficado cada vez mais claro com o passar dos anos, o Oscar é uma mistura equilibrada de política e marketing. Aquele que souber balancear essas duas fórmulas é por si só, dono da premiação. Esse domingo o balanceador se revelará!

Eis minhas previsões.

Filme: GUERRA AO TERROR
Direção: KATHRYN BIGELOW - Guerra Ao Terror
Ator: JEFF BRIDGER - Coração Louco
Atriz: SANDRA BULLOCK - The Blind Side
Ator Coadjuvante: CHRISTOPH WALTZ - Bastardos Inglórios
Atriz Coadjuvante: MO'NIQUE - Preciosa
Filme Estrangeiro: A FITA BRANCA - Alemanha
Filme de Animação: UP - ALTAS AVENTURAS
Roteiro Original: GUERRA AO TERROR
Roteiro Adaptado: PRECIOSA
Edição: GUERRA AO TERROR
Fotografia: BASTARDOS INGLÓRIOS
Direção de Arte: O MUNDO IMAGINÁRIO DO DR. PARNASSUS
Figurino: O MUNDO IMAGINÁRIO DO DR. PARNASSUS
Maquiagem: THE YOUNG VICTORIA
Trilha Sonora: UP -ALTAS AVENTURAS
Canção: CORAÇÃO LOUCO - "The Weary Kind"
Mixagem de Som: AVATAR
Edição de Som: GUERRA AO TERROR
Efeitos Especiais: AVATAR



sábado, 30 de janeiro de 2010

Repensando a Decepção do Sonho Abandonado

27 de Janeiro de 2010

Esse é o primeiro post desse ano. O primeiro depois de seis meses inatualizados. A quantidade de mudanças são consideravelmente altas. No entanto, a decisão de escrever vem de uma decepção. Uma dentre várias coisas boas que já aconteceram. Mas foi forte o suficiente para rivalizar com elas. Não quero fazer desse blog um mar de lamúrias, mesmo que pra mim, seja mais fácil escrever quando estou nesse estado: uma mistura de de filosofia com pitadas de depressão.

Hoje descobri que meus planos de morar em outro lugar tendo mais liberdade, dinamismo e comodidade foram por água abaixo. Um sonho ou plano de vida que agora será deixado para trás, por ela ser muito curta. Não posso brincar com o tempo, por isso só poderei viver o momento uma vez. Terminarei meus estudos em Aracaju como já previa. Minas... bem, essa terá que esperar. Dois anos, três... talvez mais que isso. Mas o fato é que se investi muito e agora estou decepcionado por não ter dado certo, ao menos não viverei na dúvida eterna do "não tentei". O que estava ao meu alcance eu fiz, e não me arrependo.

Gosto de pensar que, apesar de não ser o ideal pra mim, a UFS é a chance que muitos querem e poucos têm. Nesse sentido, aceitar a universidade é bem mais fácil. Não é só uma obrigação. Mais do que isso, Aracaju é o lugar que eu aprendi a amar e respeitar, por mais que também tenha seus defeitos. É a terra na qual aprendo coisas novas todos os dias. Algumas lições que dificilmente outros lugares poderiam me dar.

A primeira sensação sempre é a frustração, claro. Mas nem por ela ser forte, vou deixar que prevaleça. Concluindo com uma frase do filme "A Outra História da América" que ironicamente vi no mesmo dia em que fui tomado pela decepção do sonho abandonado: "A vida é curta para se viver com raiva e ódio o tempo todo."

Prefiro agora me manter empolgado para a volta às aulas e rever meus colegas. Isso sim é um sentimento bom. Matar a saudade que estou daquelas pessoas que me fazem tão bem. Já como não posso mudar o começo, tentarei mudar o final... Mal posso esperar pra voltar à Sergipe.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Reflexão Sobre a Vida

A chuva cai. Eu gosto do barulho da água batendo no telhado. A sensação de frio que passa pelo corpo de forma bem fraca e sutil. Há uma estranha sensação de conforto nesse barulho. Acho que é pelo fato de que estou bem protegido dentro de casa e me sinto com sorte, privilegiado. Há pessoas (muitas pessoas) que não tem a mesma sorte, o mesmo privilégio. Me sinto, de uma certa forma, renovado, já que não tenho me sentido e não costumo me sentir assim. Posso ter levado um dia muito ruim, mas ao chegar a noite e ouvir o barulho de gotas de chuva batendo no telhado, no asfalto, a sensação é de que respirei aliviado. Sensação de que escapei de morrer afogado e voltei a vida. É um estranho contraste, pois a água no afogamento significa a morte por si só, e, enquanto que na chuva, ela é a vida.


Ah, vida! Algo que não tem motivo, não há propósito, ela simplesmente é o que ela é. Tenho pensado muito nela. É algo que Deus dá e provavelmente o que há de mais valioso em cada um de nós. Da mesma forma, é difícil imaginar porque ela é tirada também de forma tão simples, tão cruel. Nos acostumamos com a vida, com a presença e quando nos sentimos tão bem, ela simplesmente se vai, deixando somente a carne morta e memórias. A lembrança de como aquilo que vivemos foi bom, ou não. A saudade. Eu poderia ter dito algo à ela. Alguma coisa que eu esqueci de falar, durante todos esses anos que convivemos. Alguma coisa. Tanta coisa! Fica a sensação de arrependimento. Fico achando que não dei o devido valor. Se tudo pudesse acontecer novamente. Voltar no tempo. Mas, lógico, não podemos. Só há uma chance, e ela precisa ser aproveitada. Bom, se ela não foi a aproveitada... bem, paciência. O jeito será tomar cuidado para que o erro não se repita com quem está ao seu lado, próximo.

Mas a vida não acaba dessa forma. Ela continua na memória. Aqueles que gostam da gente, que se lembraram da gente e que criaram um ciclo de convivência, esses, nunca nos abandonam de fato. Eles podem se encontrar em outro lugar. Dentro de nós mesmos, e estarão vivos como nunca estiveram. Eu não acredito na morte. Ao menos a morte humana. Morta está a caneta com qual escrevo, a mesa, a cadeira. Essas realmente não têm vida. Uma pessoa só morre de fato quando não há outra que lembre dela, ou qualquer ser vivo que tenha criado um laço de afeição com ela. Espero que você agora esteja finalmente em paz. O mistério da “morte” já não existe para você. Algum dia vamos nos reencontrar, espero que não tão cedo. Sim, você deixará saudades e o fato de não poder mais conversar com você, ouvir sua voz, traz um sentimento de perda. Mas quero viver muito ainda e descobrir mais dos mistérios da vida. Quero poder viver tanto quanto você ou até um pouco mais. Deixarei que as coisas aconteçam espontaneamente, sem pressa, pois tenho muita vida pela frente.


A vida é mesmo engraçada. Há momentos em que quero encerrar de vez, pois não sinto forças nem vontade de continuar. Perco a fé. Há outros, nos quais a vontade é de viver para sempre. Nunca abandonando o desejo de estar aqui. Momentos de tristeza, momentos de felicidade. Momentos de refletir, repensar as atitudes. Chega uma hora em que devemos pensar o que estamos fazendo para por em cheque as atitudes que temos todos os dias. Todas as horas. Tudo aquilo que não damos a devida a atenção. Até porque a chance é uma só, não há como fazer de novo o mesmo momento, ele é único. Penso: “deveria estar aqui mesmo?”. Acho que deveria estar em outro lugar, fazendo outra coisa mais interessante. Mas, já como o destino conspirou para que eu estivesse aqui, vou tentar modificar o que posso. Interferir demais pode resultar em arrependimentos. Momentos de angústia existem para aprendermos com ele e não para por um fim em tudo de forma tão covarde. Acredito que quando eu voltar vou poder fazer diferente. Pois bem, parou de chover, só a menos chuviscos agora. Acho que é só, por enquanto.


À minha querida Dona Valda, vó Valda, tia Valda

(09/11/1939-19/07/2009)

por todos os quase 20 anos de convivência, e momentos de muita paz,

com quem pude aprender muito e de forma muito simples sobre o amor e o carinho,

pelas pessoas, pelos seres vivos e pela vida como ela é.






sábado, 30 de maio de 2009

O Céu com Diamantes


... e mais de um mês se passou. De fato eu quase abandonei esse blog. Disse 'quase', porque vou dar mais atenção, agora que tenho um pouco de tempo. A faculdade têm tomado meu tempo de uma forma sufocante. Em três semestres, esse foi o mais avassalador em termos de trabalhos acadêmicos. Curioso que nesse semestre realmente não estamos tendo muitas provas, mas é fácil de entender: a maioria das matérias são mais práticas do que teóricas, e lógicamente, isso implica em uma maior dedicação já que a maioria dos trabalhos pedem que você pesquise e saia mais do ambiente universitário. Enfim, como muitos têm me perguntado (além de questionado o porque de meu último post ter ocorrido há um mês e meio), resolvi dedicar esse para uma pequena explicação sobre o que vejo como o 'repensar do céu com diamantes'.
Claro! É uma música dos Beatles, mas há uma perfeita simetria nela e que a torna única a ser ouvida. Ao menos para mim. Repensar o Céu com Diamantes, nada mais é do que ver e continuar a ver as novas possibilidades para tudo. Vejo o Céu com Diamantes descrito por John Lennon como um lugar propriamente seu onde você faz as regras e pode construir e desconstruir, inovar ou conservar. O lugar que mais se pareceria com este não poderia ser outro senão a mente de cada um de nós. Vou lhes dar uma amostra:

Imagine-se em um barco num rio
Com árvores de tangerina e céus de marmelada
Alguém lhe chama, você responde lentamente
Uma garota com olhos de caleidoscópio
Flores de celofane amarelas e verdes
Crescendo por sobre sua cabeça
Procure a menina com o sol em seus olhos
E ela se foi

Lucy no céu com diamantes
Lucy no céu com diamantes
Lucy no céu com diamantes

Segue a até a ponte perto da fonte
Onde pessoas com cavalos de pau
Comem tortas de marshmelow
Todos sorriem
Enquanto você boia passando as flores
Que crescem tão inacreditavelmente altas
Táxis de jornais aparecem na costa
Esperando para levá-lo embora
Sobe atrás com sua cabeça nas nuvens
E você se foi

Lucy no céu com diamantes
Lucy no céu com diamantes
Lucy no céu com diamantes

Imagine-se em um trem na estação
Com carregadores de plasticina
Com gravatas espelhadas
De repente alguém está la na catraca
A garota com olhos de caleidoscópio

Lucy no céu com diamantes
Lucy no céu com diamantes
Lucy no céu com diamantes

Lembro das primeras vezes que ouvi a música. Pensava que Lennon estava tentando voltar a sua infância. Tanto o rítmo quanto a letra me faziam lembrar de passagens felizes da minha, com tantas cores e elementos diferentes (táxis de jornais?gravatas espelhadas??). Para muitos nada mais do que o efeito do LSD, mas acho o Beatle dos óculos redondos genial o suficiente para deixar que suas músicas pudessem ter interpretações singulares. Lanço aqui o palpite 'infância' que foi o primeiro que pensei. O Céu com Diamantes é um País das Maravilhas e Lucy a Alice moderna. A garota com olhos de caleidoscópios seria o Coelho Branco que conduz Alice a um lugar totalmente novo e, porque não seria, inocente também, já que "todos sorriem enquanto você boia nas flores que crescem tão inacreditavelmente altas". Aliás com descrições de 'inacreditavelmente altas' só sugere o olhar de uma criança a respeito de tudo já que ela é pequena e jovem demais para entender tudo a sua volta.
Meu segundo palpite remonta de fato o que já tinha falado sobre a mente humana. Nesse caso, vejo a menina com olhos de caleidoscópio como aquilo que procuramos a vida toda. Aquilo que é o sentido da vida e o porque de estarmos todos aqui. Melhor dizendo, seria o nosso propósito, nosso objetivo enquanto partes desse espaço que habitamos. Claro que são apenas interpretações, mas gosto de pensar e repensar o meu Céu com Diamantes dessa forma. Quanto a garota com olhos de caleidoscópio, ela estará lá na catraca da estação de trem me esperando, não tenho dúvidas. Mas por enquanto prefiro construir o céu a minha própria forma e compartilhar um pouco dele com vocês, aqui. Novamente, sejam bem-vindos e dessa vez, pra ficar! =D