quinta-feira, 23 de julho de 2009

Reflexão Sobre a Vida

A chuva cai. Eu gosto do barulho da água batendo no telhado. A sensação de frio que passa pelo corpo de forma bem fraca e sutil. Há uma estranha sensação de conforto nesse barulho. Acho que é pelo fato de que estou bem protegido dentro de casa e me sinto com sorte, privilegiado. Há pessoas (muitas pessoas) que não tem a mesma sorte, o mesmo privilégio. Me sinto, de uma certa forma, renovado, já que não tenho me sentido e não costumo me sentir assim. Posso ter levado um dia muito ruim, mas ao chegar a noite e ouvir o barulho de gotas de chuva batendo no telhado, no asfalto, a sensação é de que respirei aliviado. Sensação de que escapei de morrer afogado e voltei a vida. É um estranho contraste, pois a água no afogamento significa a morte por si só, e, enquanto que na chuva, ela é a vida.


Ah, vida! Algo que não tem motivo, não há propósito, ela simplesmente é o que ela é. Tenho pensado muito nela. É algo que Deus dá e provavelmente o que há de mais valioso em cada um de nós. Da mesma forma, é difícil imaginar porque ela é tirada também de forma tão simples, tão cruel. Nos acostumamos com a vida, com a presença e quando nos sentimos tão bem, ela simplesmente se vai, deixando somente a carne morta e memórias. A lembrança de como aquilo que vivemos foi bom, ou não. A saudade. Eu poderia ter dito algo à ela. Alguma coisa que eu esqueci de falar, durante todos esses anos que convivemos. Alguma coisa. Tanta coisa! Fica a sensação de arrependimento. Fico achando que não dei o devido valor. Se tudo pudesse acontecer novamente. Voltar no tempo. Mas, lógico, não podemos. Só há uma chance, e ela precisa ser aproveitada. Bom, se ela não foi a aproveitada... bem, paciência. O jeito será tomar cuidado para que o erro não se repita com quem está ao seu lado, próximo.

Mas a vida não acaba dessa forma. Ela continua na memória. Aqueles que gostam da gente, que se lembraram da gente e que criaram um ciclo de convivência, esses, nunca nos abandonam de fato. Eles podem se encontrar em outro lugar. Dentro de nós mesmos, e estarão vivos como nunca estiveram. Eu não acredito na morte. Ao menos a morte humana. Morta está a caneta com qual escrevo, a mesa, a cadeira. Essas realmente não têm vida. Uma pessoa só morre de fato quando não há outra que lembre dela, ou qualquer ser vivo que tenha criado um laço de afeição com ela. Espero que você agora esteja finalmente em paz. O mistério da “morte” já não existe para você. Algum dia vamos nos reencontrar, espero que não tão cedo. Sim, você deixará saudades e o fato de não poder mais conversar com você, ouvir sua voz, traz um sentimento de perda. Mas quero viver muito ainda e descobrir mais dos mistérios da vida. Quero poder viver tanto quanto você ou até um pouco mais. Deixarei que as coisas aconteçam espontaneamente, sem pressa, pois tenho muita vida pela frente.


A vida é mesmo engraçada. Há momentos em que quero encerrar de vez, pois não sinto forças nem vontade de continuar. Perco a fé. Há outros, nos quais a vontade é de viver para sempre. Nunca abandonando o desejo de estar aqui. Momentos de tristeza, momentos de felicidade. Momentos de refletir, repensar as atitudes. Chega uma hora em que devemos pensar o que estamos fazendo para por em cheque as atitudes que temos todos os dias. Todas as horas. Tudo aquilo que não damos a devida a atenção. Até porque a chance é uma só, não há como fazer de novo o mesmo momento, ele é único. Penso: “deveria estar aqui mesmo?”. Acho que deveria estar em outro lugar, fazendo outra coisa mais interessante. Mas, já como o destino conspirou para que eu estivesse aqui, vou tentar modificar o que posso. Interferir demais pode resultar em arrependimentos. Momentos de angústia existem para aprendermos com ele e não para por um fim em tudo de forma tão covarde. Acredito que quando eu voltar vou poder fazer diferente. Pois bem, parou de chover, só a menos chuviscos agora. Acho que é só, por enquanto.


À minha querida Dona Valda, vó Valda, tia Valda

(09/11/1939-19/07/2009)

por todos os quase 20 anos de convivência, e momentos de muita paz,

com quem pude aprender muito e de forma muito simples sobre o amor e o carinho,

pelas pessoas, pelos seres vivos e pela vida como ela é.






Um comentário:

  1. Bela reflexão! bem profunda. pena é q poucas vezes paramos pra pensar no q é realmente importante, e fica essa sensação estranha de q somos pessoas horríveis e n damos valor pra nada. Depois passa =)
    bjos

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